"Dia 28 de maio de 2017 eu nunca vou esquecer esse dia!” Começo esse texto reproduzindo a fala de Dona Marluce, a primeira pessoa que encontramos no último domingo vivendo em situação de rua aqui em Mamanguape. Essa frase nos marcou, pois ela retrata o sentimento que tivemos ao realizar essa ação que Deus nos confiou. E assim como ela, também não esqueceremos esse dia.
Quando nós sentimos, em nosso coração, o chamado para realizar a ação em prol dessas pessoas excluídas, rejeitadas, e, muitas vezes, discriminadas, não sabíamos ao certo o que esperar, como agir, o que falar ou como nos comportar. Porém, uma frase chamou bastante atenção durante a última semana, enquanto estávamos reunidos ajustando os últimos detalhes da campanha:“...não nos preocupemos, nem nos deixemos abalar pelas dificuldades, estresses e medo que possam vir a nos acometer. Confiemos em Deus, pois ele está conosco!”
Após uma semana muito corrida, estressante e repleta de dificuldades, tivemos um momento de oração, união e reflexão, e essa foi a frase dita por Maria Da Luz, durante uma oração. Nesse dia estávamos todos muito agitados, mas depois daquela oração, nos olhamos e balançamos a cabeça, confirmando no nosso coração que aquilo era um recado de Deus para nós, e, no dia seguinte, estávamos todos tranquilos e confiantes, tendo certeza de que tudo daria certo. E deu!
Saímos juntos no domingo à noite, com o intuito de levar conforto e um pouco de alegria àquelas pessoas que estávamos prestes a encontrar, e o mais surpreendente foi que, ao contrário do que nós imaginávamos - de que eles poderiam aprender, sorrir e também ouvir conosco sobre como Jesus é lindo, nós é que recebemos tudo isso deles. Cada conversa, cada relato sobre suas histórias de vida, suas lutas e perseverança nos encheram de alegria, nos deram testemunho vivo de fé e de crença naquele que nos enviou.
Como disse a nossa missionária Vitória, em testemunho logo após a missão: “Como é bonito ver pessoas que vivem em realidades tão diferentes da nossa e mesmo assim tão felizes e com tanta fé em Deus. Saímos para levar felicidade, mas nós quem recebemos.”
Graças a Deus fomos muito bem recebidos por todos os moradores, mesmo após termos atrapalhado um dos poucos momentos de descanso que eles têm nas ruas, mesmo após chegarmos de surpresa, eles nos receberam, nos ouviram, nos permitiram orar por eles e com eles.Tiveram sim imprevistos, os quais poderiam ter feito todos nós mudarmos de ideia. Choveu durante a missão, um dos carros de apoio quebrou um pouco antes da ação.. Mas Deus providenciou tudo e nos fez canal para falarmos dEle a cada pessoa que nos recebeu.
Ouvimos histórias tristes, choramos, nos abraçamos, demos várias risadas e tivemos que dar tchau a cada um. Quando esse momento chegava, ficávamos de coração doído e com uma enorme vontade de não ir. Nosso coração apertava ao pensar em ter que deixa-los alí sozinhos, no frio, deitados em papelões. Muitas vezes, deitados embaixo de postes de iluminação, com toda aquela luz clareando uma situação que muitas vezes nós, seres humanos, fingimos não ver e não reconhecer que existe!
E uma das frases que foi dita por um dos moradores, ressoa até hoje em nossas mentes: “Vocês estão aqui agora e eu tô muito feliz, mas às vezes eu fico triste e lembro que vocês estão aqui, comigo, agora. Mas daqui a pouco vocês vão pra casa de vocês e eu vou continuar aqui.”Isso nos partiu o coração e a vontade de deixar a emoção escorrer pelos olhos foi grande. O que nos conforta é saber que pudemos levar o amor, atenção e a palavra do Senhor para cada um. E o melhor: eles ouviram e aceitaram cada palavra dita por nós!
Foram muitas as experiências trocadas e podemos afirmar que todos saíram com algo diferente dentro do peito. Foram horas para finalmente dormir após chegar em casa. A mente não parava de pensar, um turbilhão de emoções nos invadiu junto com a certeza de que, mesmo que fosse pouco, o que fizemos, para eles, foi muito.Queria falar mais, escrever mais, só que é difícil colocar em palavras o que foi o dia 28/05/2017. Mas, para finalizar esse texto, vou usar as palavras de Marcelino, um dos amigos que fizemos nessa noite chuvosa do último domingo de maio:“Eu estou feliz, e mais feliz agora porque todos vocês estão comigo. Porque nós, moradores de rua, somos invisíveis para as pessoas. É como se a gente não existisse. Mas hoje eu estou alegre, porque vocês vieram me ver. Passei o dia todinho esperando, quando soube que vocês vinham! Quando Rivaldo disse que vocês iriam vir me visitar às nove horas, eu disse a ele que estaria esperando. Mas quando ele foi embora eu pensei: eita! Nem perguntei se seria às nove horas da manhã ou da noite (risos).”
E alí estávamos nós, dando risada, conversando, vendo Jesus nos nossos irmãos. Os olhares de felicidade, os corações cheios de graça, a presença do espírito santo nos guiando, foi a melhor recompensa que recebemos!
Gratidão é a palavra que muitas pessoas usaram para descrever esse momento. Gratidão a Deus por saber que podemos ser instrumentos dele; gratidão a cada pessoa que nos recebeu, por nos ensinarem que Deus não desampara seus filhos, e que ELE é o conforto para cada um; gratidão por cada pessoa que fez essa missão acontecer, dando seu SIM ao chamado do Senhor; gratidão às pessoas que nos ajudaram através de doações, orações, como cozinheiros, como motoristas.. Enfim, a todos que quiseram fazer a diferença, e que no final das contas, voltaram diferentes para casa.
“Quanto a nós, sabemos que passamos da morte para a vida , porque amamos nossos irmãos” (I João 3,14).
“Que possamos ressuscitar para o amor, pois quando estamos voltados para o Senhor, sentimos Seu amor e começamos a amar: voltamos à vida. Sabemos que passamos da morte para a vida, porque o amor de Deus está em nós. Porque estamos voltados para Ele, começamos a amar o próximo.” (Monsenhor Jonas Abib).
Por: Juventude Missionária - Mamanguape
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