Em sua primeira semana de chegada na sede das Pontifícias Obras Missionárias em Brasília, conversamos com Pe. Genilson Sousa, vindo da Diocese de Nazaré da Mata (PE) para colaborar na secretaria da Pontifícia Obra da Propagação da Fé (POPF). Nos próximos meses, Pe. Genilson fará um trabalho conjunto com Pe. Badacer Neto. Nesta entrevista fala sobre sua história pessoal e das motivações para assumir a secretaria nacional da POPF.
Fiz a primeira comunhão em 1996, na capela de Santa Luzia, na comunidade onde morava, preparada pela catequista, Dona Maria de Fatima. Em 2002-2003 fiz a experiência dos Encontros da catequese de Crisma. Andava cinquenta minutos todos os domingos, ao meio dia, para escutar e aprender os ensinamentos da catequista, Dona Flora. Enfrentei um sol muito forte por dois anos. Às vezes queria desistir, mas algo me chamava. Muitas vezes ia sem almoçar para não perder os encontros. Quando não ia, ficava inquieto comigo mesmo. Certo dia, a catequista me pediu para ler a bíblia na hora do encontro, gostei daquele momento. Cada dia me envolvia ao ponto de não perder mais os encontros.
Depois de Crismado, estive envolvido no grupo de jovens chamado Filhos de Maria, que tinha como símbolo Nossa Senhora de Fátima, ao estilo da Pastoral da Juventude (PJ). Meus irmãos e vizinhos também participavam desse grupo motivados pelo coordenador da comunidade, chamado Nivaldo Duda. Nos reuníamos todos os domingos à tarde. Partilhávamos a palavra, cantávamos, planejávamos os encontros para outras comunidades.
Em 2005, em um retiro de carnaval, organizado pela Renovação Carismática Católica, ouvindo as pregações, cada vez mais sentia no coração o chamado para aprofundar a vocação. Eu estava, naquele período, auxiliando na catequese de crisma com a catequista. Todos os meses tínhamos formação de catequese na cidade de Surubim, no Colégio Nossa Senhora do Amparo. O pároco sempre dava os nortes reflexivos para a catequese. Era bom ouvir, escutar e participar. Certo dia, peguei uma carona com o coordenador da catequese, o professor Luiz Gonsalves, já de idade, hoje padre Luiz. Ele parecia angustiado pela falta de padre: “são poucos padres, e os poucos, ocupados demais”. Fiquei matutando aquelas palavras.
Havia na paróquia de Surubim o padre Aluísio da Silva Ramos. Eu escutava as suas pregações pelo rádio, ou nos encontros de catequese. Naqueles dias, no sítio, ouvindo sua pregação, deixei de lado a serra, instrumento que usava para cortar capim, e fui ouvi-lo. Falava de saída, não ser o que o outro pensa, mas ser uma pessoa de decisão, que sabe o que faz, consciente da sua missão. Foi profundamente essencial na minha vida suas reflexões.
A figura do padre era para mim e a para minha família um modelo, mas muito distante. Eu precisava quebrar aquela distância. Dias depois compartilhei com um catequista, no encontro, meu desejo de falar com o padre. O rapaz disse: “olha o padre aí, fala com ele”. No intervalo daquele encontro, falei: “Olá, sr. padre, posso falar com o senhor? Queria falar sobre vocação”, disse eu. Respondeu o padre: “Meu irmão, hoje não da, mas na próxima semana lhe atenderei na secretaria paroquial”. Naquela semana, pela primeira vez faltei a aula para ir à missa. Nunca tinha feito isso. Não sabia qual padre iria, apenas queria estar na missa naquele dia. Antes da missa ele me chamou e conversou comigo. Mais uma vez disse que no outro dia poderia ouvir com mais tempo.
No dia agendado, ao começar a conversa, fui logo expressando: “Olhe, não quero ser padre, mas quero discernir minha vocação”. Ele muito sábio pediu duas tarefas como critério, depois de várias conversas, para eu ficar um final de semana ajudando os padres nas missas e, em outro final de semana, participar dos encontros vocacionais. Era cansativo pra mim, pois, além de cuidar do gado e realizar as tarefas do sítio, tinham as aulas e eu estagiava no colégio, lecionando uma turma de jovens e adultos toda noite. Porém não foi motivo para desistir. Além da escola, todos os sábados eu era vendedor de frutas e verduras na feira livre da cidade. Eu gostava de ajudar muito meu pai. Porém, meu pai jamais pensava que ia seguir a vocação, apesar de ter muita vontade de ver um filho padre. Assim foi tomando o caminho da vocação.
Em 2010, com a chegada de Fernando Saborido, em Recife, e apoio do Bispo de Nazaré, Dom Severino Batista, fomos estudar na Universidade Católica de Pernambuco. Ainda em formação, tive a oportunidade de participar das missões dos seminaristas, idealizada por Dom Esmeraldo, em Santarém, por 40 dias, na Cidade de Belterra (PA). Participei dos encontros dos seminaristas no nordeste em Campina Grande e da formação missionária para seminaristas no Centro Cultural Missionário (CCM).
No dia 5 de outubro de 2017, assumi a paróquia Nossa Senhora do Desterro, Itambé (PE). Um contexto novo, diferente e desafiador para mim. Mas com o apoio do clero, o Bispo diocesano, Dom Francisco de Assis, e toda a comunidade, assumi aquela missão com muito amor e disponibilidade naquele mês missionário. Por três anos, cuidamos sendo presença de pastor, na proximidade ao povo, na atenção às comunidades mais afastadas, os grupos, pastorais e movimentos, juventude, catequese, aberto ao dinamismo da paróquia, na paciência e consciência de ser, mesmo um jovem, mas buscando com sabedoria conduzir o povo que Deus me confiou.
A secretaria da obra tem uma dimensão tamanha em acompanhar, motivar, colaborar com vários grupos missionários, as famílias missionarias, a juventude missionária e o projeto dos enfermos e idosos missionários, por esse imenso Brasil. Vamos ter o contato com os regionais, as dioceses que têm a obra e também na possibilidade de escutar e apresentar as dioceses onde ainda não tem.
Essa parceria de seis meses com o padre Badacer será de suma importância, podendo conhecer as atividades da POPF na sua atuação em nosso Brasil, em nossos regionais e dioceses. Tem como finalidade, ainda, a continuidade, comunhão e diálogo junto à Animação Missionária da Igreja do Brasil. Também tem como finalidade a tomada de consciência na perspectiva da sinodalidade, na escuta e partilha das experiências dos leigos, jovens, famílias, grupos, bispos, colaborando com a consciência missionaria, não esquecendo que a missão é de Deus.
Que neste ano, refletindo o tema da campanha missionária no mês de outubro, com o tema “Jesus Cristo é missão”, possamos aprofundar e testemunhar aquilo que vimos e ouvimos d´Aquele que nos chamou, sendo sinal de comunhão e missão, escuta e compaixão em contexto de pandemia. Hoje como sempre, Ele nos chama a todos com mais ousadia, testemunhando seu amor infinito, cuidando de todos e da casa comum. Caminhar juntos na reciprocidade é a nossa missão.
Fonte: https://www.pom.org.br/entrevista-pe-genilson-sousa-caminhar-juntos-na-reciprocidade-e-a-nossa-missao/